fbpx

Escola de Enfermagem da Paz

Os três Anjos Brancos: jovens enfermeiras e os desafios da profissão em 1976

Essa matéria é um achado da REVISTA RUA GRANDE publicado 20/08/1976 e faz parte da história da Enfermagem de São Leopoldo/RS e do Hospital Centenário.

Nossa entrevista de hoje foi feita com três jovens enfermeiras que atuam com muito desvelo e amor à profissão no Hospital Centenário. Na nobre missão que desempenham, como supervisoras de enfermagem, deixam transparecer a todos o carinho e dedicação com que se aproximam de um doente, transmitindo num sorriso a paz e a esperança de “um anjo bom”.

A Jovem Maria Anália Hansen, natural de Nova Petrópolis, residente em Novo Hamburgo, concluiu o curso superior de enfermagem em 1971, pela UNISINOS, e desde abril de 1974 vem desempenhando a função de Chefe da Enfermagem no Centenário. 

O Comando da Enfermagem 

Sob sua responsabilidade e das enfermeiras Sra Angela Tramontini e Inês Henneman estão 150 atendentes, 25 auxiliares e 5 parteiras. 

Maria Analia é quem resolve os problemas da equipe, embora diga que seu trabalho é realizado sempre em conjunto, nunca isolado. No desempenho de sua função, a maior dificuldade que encontra, atualmente, é com o pessoal de enfermagem que quando está capacitado, isto é satisfazendo as exigências do hospital demite-se por vários problemas pessoais, necessitando dessa forma admitir novos enfermeiros que, ao iniciarem merecem um novo treinamento para sua adaptação ao trabalho que deverão desempenhar. 

Muitos doentes para 418 leitos

Outro problema sério é a grande demanda de doentes para o número de leitos existentes. Em nosso hospital podemos contar com 10 leitos na Emergência, 4 na UTI, 8 na sala de recuperação, 58 na clínica cirúrgica, 100 na clínica médica, 53 na pediatria, 20 na clínica infecto-contagiosa, 32 para gestantes, 40 no berçário, 33 para acompanhantes e 60 no asilo, perfazendo um total de 418 leitos.

Um semestre, 2.474 cirurgias

O setor que mais superlota é a clínica cirúrgica. Depois a maternidade e clínica médica embora no 1º semestre deste ano todos os setores tenham apresentado uma superlotação. Na pediatria, foram baixados 50 pacientes, isto é, na base de 82,4% de ocupação. Na clínica cirúrgica a ocupação foi de 82% e na clínica infecto-contagiosa foi de 60%. Na clínica médica a ocupação foi de 83,5% e no asilo foi de 100%. No 1º semestre foram efetuadas 2.474 cirurgias. 

6 meses, 1.138 nascimentos

Neste mesmo período nasceram na maternidade do centenário nada menos que 1.138 crianças, perfazendo uma média de 190 nascimentos por mês. 

Em nosso hospital atuam 65 médicos e 12 doutorandos, sendo que o corpo médico é administrado pelo Dr Regis Porto, os doutorandos pelo Dr. Einar Nerger e o responsável pelo setor administrativo é o Sr Glodomiro Martins. 

Maria Anália uma das nossas entrevistadas diz que “dentro do meu trabalho me sinto muito bem. Em toda profissão existem problemas, embora reconheça que na minha sempre pude solucioná-los, mesmo sendo difíceis e é isto que me estimula a continuar a tarefa que me propôs a realizar”. 

A grande preocupação

A Sra Ângela Tramontini Grams, leopoldense, filha do casal Murilo-Clea Justo Tramontini, concluiu o curso superior de enfermagem em julho de 1975 pela UNISINOS. Antes de vir oferecer seu dignificante trabalho profissional à comunidade leopoldense, atuou por 2 anos  no Instituto de Cardiologia (PA), mais precisamente no setor de UTI, embora ainda seja estudante. 

Mesmo antes de estar formada, Ângela veio exercer sua profissão no Hospital Centenário, onde hoje é supervisora do setores do Hospital: clínica médica (a maior), pediatria, clínica cirúrgica, maternidade-centro obstétrico e berçário; ambulatório e UTI. 

Para Ângela, dentro das necessidades de cada setor, todos eles são de grande importância e exigem muita preocupação. 

Técnico em Enfermagem

Perguntando a ela qual dos setores mais a atrai, nos diz “quando estou mais tranquila gosto de estar na maternidade ou no berçário, mas quando meu espírito está mais agitado, prefiro as clínicas mais movimentadas, que apresentam maiores problemas”

O problema, achar o enfermeiro

Ângela encara sua profissão como a ideal para a mulher, pois o curso oferece uma visão global da vida humana em todos os seus aspectos. 

Ela nos diz que “Enfermagem atualmente não é mais apenas uma enfermeira de cabeceira, mas sim alguém que se preocupa na reintegração do paciente na sociedade. Aqui não se faz Enfermagem devido ao limitado número de profissionais. O grande problema é a aceitação do profissional. O Enfermeiro é um profissional muito caro e que pode ser substituído por um com prática apenas, que se tornará menos caro.’’ 

Dentro da Enfermagem existe uma escala com 4 categorias: o atendente que possui o antigo primário e mais um curso de enfermagem com duração de 2 meses, o auxiliar que possui 1º grau completo e mais um curso de enfermagem de 1 ano ; o técnico que possui 2º grau com ensino profissionalizante em Enfermagem; e enfermeiro que possui 04 anos de ensino superior. 

Uma esperança, a profissão 

Como profissional realizada, Ângela lastima que a Enfermeira não tenha sua profissão regulamentada, pois não está amparada nem pela CLT, nem regida por plano de carreira. Entretanto, tem esperanças que no decorrer deste ano sua profissão seja ainda enquadrada na CLT, em vista da grande luta que vem empreendendo a enfermeira Sra Celina Tibiriçá junto ao Ministério do Trabalho. Como primeiro passo já foi criado em maio deste ano (76) o sindicato dos Enfermeiros. 

Para Ângela, o mais importante na profissão de enfermeira seria a conscientização do povo, para que reconhecesse que ele necessita do Hospital e não o Hospital dele. O Hospital é um órgão de utilidade pública e portanto, como tal, deve ser valorizado. 

Apreensão e Segurança 

Inês Henneman, a jovem leopoldense, filha de tradicional família de nossa terra, também é prata da casa. Concluiu seu curso superior em Enfermagem em dezembro de 1975 pela UNISINOS. Inês escolheu a enfermagem como profissão por sentir-se atraída pela mesma desde muito pequena. Seu primeiro emprego foi no Hospital de sua terra natal onde veio oferecer seus conhecimentos em benefício de nossa comunidade.

No início sentiu-se um pouco apreensiva, mas com o apoio e esti,ilça que lhe ofereceram suas colegas Maria Anália e Ângela, além do ambiente que já lhe era familiar e, virtude dos conhecimentos que possuía dentro do próprio Hospital, sua adaptação foi fácil e muito importante para o desempenho da função. Hoje já se sente bastante segura e muito tranquila no setor em que atua como supervisora de Enfermagem no turno da tarde. 

Quando faltam atendentes ou auxiliares de enfermagem, Inês assume o posto, desempenhando a função que for necessária. Embora dentro do Hospital prefira atuar na Emergência, no futuro seu desejo é aperfeiçoar-se em obstetrícia. Inês sente-se realizada em sua profissão e confessa que por nada a trocaria por outra. Reconhece que nosso Hospital lhe oferece boas oportunidades no desempenho de sua profissão de Enfermeira. 

Sofrimento e Conforto 

Embora sua função absorva grande parte de seu tempo, ainda encontra algumas horas para transmitir seus conhecimentos ao próximo. Ela leciona no SESC “Enfermagem para o Lar” beneficiando jovens e senhoras. Juntamente com Maria Anália e Angela, ministra aulas na Cruz Vermelha de nossa cidade para “Auxiliares de Enfermagem” e “Atendentes”. Na vida destes ‘’três anjos brancos’’ é constante dar-se ao próximo. 

Inês, o que significa para ti a profissão de Enfermeira?
_ Nossa profissão é dar-se ao próximo e, para tanto, precisamos oferecer muito carinho ao paciente. precisamos estar sempre alegres. Dentro de um hospital vemos e ouvimos esse sofrimento e por este motivo é importante que saibamos oferecer conforto.

Texto: Marisa Faller
Fotos: Gildo Pacheco

   

Compartilhe este conteúdo:

Deixe seu comentário

O que você achou deste conteúdo? Queremos saber a sua opinião:

Realizar inscrição
Notifique-me de
guest
3 Comentários
Oldest
Newest Most Voted
Inline Feedbacks
Ver todos os comentários
Mariestela Stamm
Visitante
Mariestela Stamm
11 meses atrás

Amei o conteúdo. ele mostra com precisão a historia da Enfermagem, nossas lutas e no comparativo de hoje, nossas conquistas. Vai me ser útil para uma palestra com enfermeiros.

3
0
Queremos saber sua opinião, deixe seu comentário!x
()
x